Em tempos passados bandas de rock guiavam gerações. Seus membros, quase sempre o vocalista, era um modelo a ser copiado. Uma imagem do ídolo é criada em nosso imaginário. Logo o colocamos num lugar muito importante da nossa vida. Essa ligação acontece não apenas por causa de sua obra, também por aquilo que é partilhado em público. Se por acaso algo de sua vida pessoal vem à tona mostrando um lado que desconhecíamos, o interesse pela sua arte permanece, mas aquela imagem do ídolo se desfaz. Esse é o sentimento ao assistir Montage of Heck(2015), documentário que narra a vida de Kurt Cobain(1967-1994), vocalista e guitarrista do Nirvana (1987-1994).
Ainda lembro a primeira vez que ouvi o Nirvana. Em
2003, um amigo emprestou uma fita k7 do Nevermind.
De cara gostei de Smells Like Teen Spirit.
Sua estrutura, versos lentos antecedendo o refrão gritado; bateria forte; baixo
em destaque; e riffs de guitarra
acompanhadas de uma voz seca e rasgada davam força e energia pra canção. Com o
tempo fui gostando das demais. A mítica Come
as you are, o hino Lithium, a
explosiva Territorial Pissings, a
romântica Drain You, One a Plain, a intimista Something in the Way.
Ao ouvir a discografia da banda só fez aumentar o
interesse em saber de sua história. Na época as informações se limitavam em
revistas de pôsteres contendo algumas curiosidades, letras e traduções de
algumas músicas. Até que comprei uma que abordava mais coisas. Aí veio o
primeiro choque: sua carta de despedida. Até em tão sabia que ele tinha
cometido suicídio, mas não sabia a idade e nem as razões. 27 anos. Sucesso. Fama.
Drogas. Depressão. Problemas de saúde. Sua vida era uma bomba relógio que
estava prestes a explodir.
Montage of Heck
mostra a vida de Kurt a partir de entrevistas de amigos e familiares, anotações
de seu diário, de desenhos, pinturas, gravações caseiras, entrevistas e cenas
de shows.
Tudo estava lá e não dava pra ninguém perceber. Este documentário nos mostra o erro de divinizarmos pessoas e nos ensina, mesmo que sem querer, a olhá-las como realmente são: humanas. O que se ver é uma pessoa doente. É verdade que um acontecimento familiar marcou sua vida pra sempre; Que o uso de drogas não o ajudou a lidar com a solidão e o sentimento de rejeição; Que a fama e o sucesso eram demais para sua procedência simples e pobre. Mas não tem só isso. Há um pai brincando com sua filha e um marido amando sua esposa.
O que fica não é apenas seu final triste. Também a
paixão de Kurt pela música. E é por causa dela, da música que ele nunca será
esquecido.
De Brett Morgen. EUA, 2015, 2h12min.
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