quarta-feira, 11 de junho de 2025

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (ONCE UPON A TIME IN AMERICA)


Há uma resistência em assistir Era uma vez na América (1984) por sua longa duração (3h49min) e por parecer tratar de mais um filme sobre mafiosos. Sim. Há a máfia. Há violência. Mas são panos de fundo para diversos temas. O filme fala de amizade, lealdade, cobiça, traição, memórias, passagens do tempo e perdão.

A história é contada em três tempos, que se alternam, abordando a adolescência, fase adulta e velhice de David Aaronson, o “Noodles” (Robert DeNiro). Noodles sente-se culpado pela morte de seus três amigos após uma tentativa frustrada de assalto a um banco. Ele foge e depois de longos anos retorna ao ser descoberto. Noodles e seus amigos eram contrabandistas. Depois de um grande serviço recebem uma alta quantia de dinheiro, que é guardado numa mala em um cofre. Assim que seus amigos morrem, Noodles vai atrás da mala e ela não está mais lá. Tempos depois, ao visitar o mausoléu de seus antigos parceiros recebe misteriosamente uma chave de um cofre. No cofre há uma mala com dinheiro referente a um adiantamento por um serviço. Indo atrás das respostas, Noodles fala com pessoas conhecidas e elas o levam a descobertas que podem ser muito dolorosas.

O ponto forte do filme é a trilha sonora. Elas sempre estão acompanhando as lembranças do velho Noodles. Transmitem um misto de tristeza e saudade e nos convida a estar no lugar dele.

O tempo passa rápido e cada momento pode ser único e inesquecível. Não se sabe qual vai ser e nem quando vai acontecer. As lembranças fazem parte da nossa vida, as boas e as ruins. O tempo muda o corpo, a cabeça, o coração. Muda as pessoas e até a maneira como a vemos. No filme, Noodles era uma pessoa má. Matava, roubava, estuprava.  O tempo passou e seu olhar se tornou um reflexo de uma pessoa ferida e doída pelo que fez e pelo que sofreu da vida. Ele não é mais o mesmo. Mesmo tendo sido rejeitado, traído e machucado não guarda rancor e nem alimenta sentimentos de vingança. De fato valorizava seus amigos e queria verdadeiramente o bem deles. Deixa no final a mensagem que é uma escolha pessoal decidir “descontar” ou não aquilo que sofremos dos outros e da vida.

De: Sergio Leone. Com: James Woods e Elizabeth Mcgovern. Trilha sonora: Ennio Morricone. EUA, 1984, 3h49min.

domingo, 11 de maio de 2025

HARAKIRI (1962)


 

Ao ver sua esposa e filho doentes, Motome Chijiiwa entra em desespero. Desempregado vende suas espadas e sai pelas ruas para pedir dinheiro. Ele apela por piedade a um clã de samurais fingindo que faria o Harakiri, um ritual de suicídio. Contudo, mesmo sabendo de sua situação, os samurais ignoram e o humilham forçando a fazer o ritual com uma espada de bambu. Tsugumo Hanshiro fica indignado com a morte de seu genro e após a morte de sua filha e neto se dirige ao mesmo clã de samurais em busca de vingança. 

A palavra samurai significa “aquele que serve”. Os Samurais eram uma classe de guerreiros japoneses muito comum no Japão Feudal (séc. XII ao séc. XIX). Eles geralmente serviam a um Senhor latifundiário e suas funções iam da cobranças impostos à manter a ordem nas zonas rurais e urbanas. Com o tempo se tornaram uma classe militarizada e eram usados em batalha e guerras. Seu código de conduta baseado no budismo, confucionismo e xintoísmo pregavam valores como coragem, compaixão, benevolência, obediência e retidão. E é em cima desses valores que o filme tece suas críticas. 

A vida humana está acima de tudo. Acima de dinheiro, códigos ou honras. Enquanto o resguardo da vida não é visto como prioridade, ou seja, não está no centro, qualquer valor se torna vazio, qualquer objeto material perde seu preço. Códigos são esquecidos em nome de um coração orgulhoso. Ignorar ajuda a um ser humano em estado miserável podendo ajudá-lo é maldade. Mais ainda é assisti-lo se humilhando. 

O filme não tem muitas cenas de luta. Na verdade elas só vão aparecer lá no final. O que o roteiro faz é despertar nosso interesse em saber da vida de Tsugumo e de suas reais intenções que o levaram até a casa dos samurais. As reviravoltas e os diálogos são o ponto forte do filme. Recomendo se você quiser assistir algo diferente.

De: Masaki Kobayashi. Com: Tatsuya Nakadai, Tetsuro Tamba e Akira Ishihama. JAP, 1962, P&B, 2h13min.


quinta-feira, 3 de abril de 2025

HOMEM ARANHA 2 (SPIDER MAN 2, 2004)


 

Homem Aranha 2 ainda está conseguindo sobreviver ao fator tempo. Mesmo tendo sido lançado há mais de vinte anos, a mensagem sobre os efeitos da renúncia de si mesmo permanecem atuais.

Da noite para o dia, Peter recebeu um dom. Algo que ele nunca pediu, sonhou, imaginou ou foi atrás. E a primeira coisa que ele decide fazer com os poderes recém-adquiridos é bolar uma forma de ganhar dinheiro para quê pudesse comprar um carro e impressionar a garota dos seus sonhos. Algo dá errado e de uma maneira dolorida, Peter entende que o dom que ganhou não é para ele, é para os outros. “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades” falou seu tio Ben Parker.

Peter então começa sua jornada como super herói. Logo percebe que precisa fazer renúncias. Não foi fácil. Ele sofreu no princípio porque tudo estava dando errado, no trabalho, nos estudos, nas amizades, na vida amorosa, até o aluguel andava atrasado. Parecia que tudo estava para ruir a qualquer momento (isso porque ele fez uma escolha que acreditava ser a certa). Cheios de incertezas, sua alma “desapareceu” e ele perdeu os poderes, porque não sabia mais quem era. Ele não aguentava mais e decidiu desistir de ser o Homem Aranha. Queria cuidar de si, recuperar o que perdeu. Queria ir atrás de seus objetivos. Mas as coisas não saíram como esperado.

Todo herói é forjado na dor. Algo precisa “morrer”, ser deixado para trás por livre e espontânea vontade.

“Será que não posso ter o que eu quero?” “O que preciso?” “O que devo fazer?”

As circunstâncias da realidade respondem isso. As pessoas necessitam de boas referências. De alguém que tenha coragem de falar a verdade e que seja altruísta.

“Acredito que há um herói dentro de nós, que nos mantém íntegros, nos dar forças, nos enobrece, e por fim, nos deixa morrer com dignidade. Mesmo que às vezes, seja preciso ser firme e desistir daquilo que mais queremos. Até dos nossos sonhos.”

Bem no final do filme, Peter Parker ainda aprende que mesmo que seja compreensivo esconder sua identidade para não colocar em riscos as pessoas amadas, ele não pode negar a elas o poder de fazer as próprias escolhas, mesmo sabendo dos riscos.

De: Sam Raimi. Com: Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Alfred Molina, Rosemary Harris. EUA, 2004, 2h07min.

sexta-feira, 14 de março de 2025

A PALAVRA (ORDET)


 

“Deus é eterno e imutável.”

 

No filme A Palavra (Ordet no original) acompanhamos o abalo que sofre uma família de zona rural ao perder um ente querido e sua possível ressurreição por um homem que afirma ser Jesus Cristo!

O filme nos provoca com uma pergunta: os milagres que Jesus fez, ainda podem acontecer hoje em dia ou são apenas histórias que ficaram na Bíblia? Respondê-la nos faz compreender o entendimento que temos sobre Deus e sua ação. Ao assistir o filme percebemos a maneira que cada personagem age e pensa a partir de sua interpretação do que seja Deus. Um fica duro no coração, outro não acredita totalmente Nele, outra acredita, já um “enlouquece”.

É custoso acreditar Nele por conta da morte, da dor, do sofrimento, da injustiça e da maldade que assola o mundo. Só que quando acontece um milagre, algo que o racional não pode provar, nossa atenção se dirige para Ele. Diante de tantas indagações que temos sobre Ele, talvez a mais pertinente (a que é enfatizada no filme) é esta: Ele não dar o que queremos por que não pedimos? E se não pedimos é porque não acreditamos?

Aprendemos a partir da pregação que Deus só nos dar aquilo que é necessário e que seja importante para nossa Salvação. Pois bem, sabemos daquilo que realmente precisamos? O que quero, quero mesmo ou é uma imposição inconsciente influenciada pela sociedade? Até quando devo insistir e qual o momento que tenho que aceitar? Difícil de responder. Mas se começarmos a ouvir nosso coração e compartilhar nossa vida com as pessoas teremos algumas pistas. Não tentar isso é cair num sofrimento sem fim em tentar entender as coisas apenas a partir de convicções subjetivas e sem ajuda de ninguém.

Na parte final da película, no velório apenas uma criança acredita na ressurreição de sua mãe. Uma oração bem simples e humilde é proferida. O milagre acontece. A cena é muito bem feita. Todos os presentes ficam emocionados e começam a bendizer a Deus.

A Palavra não é um filme fácil de assistir. É dinamarquês. Preto e branco. É antigo, 1955. E é narrado de modo lento e arrastado. Se você quiser assisti-lo será preciso de muita paciência.

De: Carl Theodor Dreyer. Dinamarca, P&B, 1955, 2h04min.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

UMA VIDA DE LIBERDADE A PARTIR DE DEUS


 

Fazer o que se deseja não é suficiente para ser livre e nem sequer feliz. Todos querem viver uma vida plena e essa plenitude começa a ser vivida quando cada um percebe a existência de um limite. Existe o certo e o errado, aquilo que liberta e o que aprisiona. Existe o bem e o mal.

Há um forte convite a se viver a vida como se Deus não existisse e a compreender que tudo gira em torno do próprio querer. Quem faz isso não escapa do sofrimento. Aliás, faz é aumentá-lo, pois acaba escolhendo aquilo que é errado. No final, a alma e o coração ficam aprisionados pelo mal devido a péssima relação com Deus, as pessoas e as coisas.  

A possibilidade de se enganar é muito grande. O sucesso, o poder e o dinheiro, por exemplo, podem dar segurança e possibilidade de se fazer muita coisa na vida. Mas o preço que eles pedem é muito alto. Exigem sacrifícios; são passageiros; prometem uma felicidade que nunca chega, e faz a pessoa renegar as coisas mais queridas.

“o dinheiro rouba a vida e o prazer leva a solidão”.

Vive-se num mundo onde se aprende muita coisa errada. Agir da maneira errada, falar a palavra errada, pensar somente em si, buscar apenas o bem estar, a própria satisfação, desprezar e desrespeitar os próprios pais, tomar o corpo humano como mero instrumento de prazer. Esses são o caminho para se tornar uma pessoa egoísta e controladora.

*****

A partir de Deus a relação com os outros, as coisas e as pessoas mudam radicalmente. Os Mandamentos que Ele deu são meios de libertação do mal. Para se chegar a Ele é necessário reconhecer a própria fraqueza. É um engano achar que se pode corrigir e purificar o coração contando apenas com o esforço da própria vontade. Deus é verdadeiramente forte e o único capaz de renovar o coração do ser humano.

Isso acontece na prática quando se recebe os dons do Espírito Santo. A percepção da vida muda: A verdadeira paz não consiste em mudar a própria história, mas em aceitá-la e valorizá-la tal como é. Toda riqueza deve ter uma dimensão social que deve levar a uma generosidade em que todos se beneficiam, pois o que realmente possuo é aquilo que sei doar. A vida não é tempo apenas para possuir ou se divertir e sim contemplar e louvar Aquele que nos deu a vida e criou todas as coisas.

“Só em Deus repousa minha alma”.

A verdade está no modo de viver e morrer de Jesus, por isso imitá-lo permite uma mudança no modo de existir e viver. A nova vida não é um esforço pessoal para ser consistente para seguir uma norma, mas é o Espírito Santo que coloca no coração o desejo de se fazer o bem.

Fonte:

Catequeses do Papa Francisco sobre os Dez Mandamentos: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-11/papa-francisco-catequeses-decalogo.html

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

BATMAN, CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE(THE DARK KNIGHT RISES)


 

“Por que caímos, Bruce? Para aprendermos a levantar.”

O trunfo desta saga do Batman foi sem dúvida a escolha do diretor Christopher Nolan em focar o lado mais humano do personagem. Por isso ele fez questão de começar a história pelo início. A dor de perder os pais de maneira trágica  fez Bruce Wayne partir pelo mundo em busca de respostas sobre o mal. O que encontra é apenas que ele precisa ser combatido. Por isso, após sete anos peregrinando retorna a Gotham City com sensação de que teria que dar algo a cidade. Algo que pudesse inspirar o bem. Ele faz isso como o Batman, um herói que apesar de não ter superpoderes, possue inteligência e recursos o suficiente.

Neste filme que encerra a história do homem morcego, Bruce está recluso e machucado física e mentalmente por conta da luta contra o Coringa. Até então é o único acusado pela morte de Harvey Dent do filme anterior. Após o surgimento de uma nova ameaça, Batman é forçado a voltar, mas não consegue voltar do mesmo jeito. O grandalhão Bane é forte, inteligente e o derruba. Ao ver a cidade sofrendo, Bruce arranca forças para dar a volta por cima e vencer os vilões (num dos melhores, até o momento o melhor, final de um filme de super heróis)

Bruce nunca esteve só. Após a partida dos pais, Alfred, Lucius Fox e  Tenente Gordon sempre estavam ali para ajudá-lo. Atuando muitas vezes como figuras paternas. Em Bruce dar para aprender que se olharmos para além da nossa dor veremos aqueles que sofrem mais, e que eles precisam da nossa ajuda. Uma nova pessoa surge do sofrimento, com novos objetivos e pensamentos. O que nos define não é aquilo que somos, mas o que fazemos. O que mais importa não é cair, mas levantar.

De: Christopher Nolan. Com: Christian Bale, Tom Hardy e Anne Hathaway.  EUA, 2012, 2h45min


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...