Se viver consiste em
acreditar em algo, é preciso conhecer pessoas mostrando que acreditar é
preciso. Que é possível viver acreditando e será possível dar a vida acreditando.
Essas pessoas guardam um mistério onde se torna fascinante e estimulante querer
saber a vida delas. Como elas viveram? Como conseguiram? Como suportaram? Seus atos
inspiram e seus nomes e obras atravessam o tempo. Apresento aqui um pouco da
vida de Giovanni di
Pietro di Bernardone.
Deus? Quem é Deus? Uma invenção? Uma
história?
O que dizer? Às vezes muito é se dito quando é pouco falado. As palavras
têm o poder de “balançar as estruturas”. Tem se a história, os ensinamentos, os
dramas, as vitórias, as experiências...
“Tudo
começa com o despertar. Você acorda diante do fracasso. Ver que tudo pelo qual
se lutou foi em vão. Não deu certo. Sozinho, preso, sem tantas coisas pra
fazer. Apenas quieto. É nessa hora que
Ele aparece...” LARRAÑAGA, 2007, p.12.
“Em
toda adesão a Deus, quando é plena, esconde-se uma busca inconsciente de
transcendência e de eternidade. Em toda saída decisiva para o Infinito, palpita
um desejo de libertar-se da opressão de toda limitação e, assim, a conversão
transforma-se na suprema libertação da angústia.”. LARRAÑAGA, 2007, p.12.
“Onde
está o dinheiro não há lugar para outro Deus. Onde há dinheiro não há amor. O
dinheiro corrompe os sentimentos, divide coração, dissocia famílias: inimigo de
Deus e inimigo do ser humano.” LARRAÑAGA, 2007, p.72.
“A
família e sociedade firmam os pés sobre o senso comum, sobre a plataforma do convencionalismo
e necessidade às vezes naturais, às vezes artificiais: é preciso casar-se, ter
filhos, ganhar dinheiro, construir um prestígio social... É difícil, quase
impossível, ser livre nesse ambiente, e a pessoa que quer seguir Jesus até as últimas
conseqüências precisa antes de tudo liberdade, e não há liberdade sem saída.
LARRAÑAGA, 2007, p 73.”
“Deus
está sempre no centro. Quando todos os revestimentos caem, aparece Deus. Quando
os amigos desaparecem, os confidentes atraiçoam, o prestígio social é ferido a
machadadas, a saúde vai embora, então aparece Deus. Quando todas as esperanças
sucumbem, Deus levanta o braço da esperança. Quando os andaimes arriam, Deus
transforma-se em apoio e segurança. Só os pobres possuirão a Deus.” LARRAÑAGA,
2007, p. 94
“Não
sabia que rumo sua vida haveria de tomar. Esforçava-se apenas para ser fiel
cada dia e vivia à espera da manifestação da vontade divina.” LARRAÑAGA, 2007,
p. 119.
“O
dinheiro classifica. Levanta muralhas de aço entre irmãos. A fama classifica e
a beleza também. Que sobrará para todos os filhos de Deus que não têm dinheiro,
beleza, títulos, saúde ou fama? Só o esquecimento e o desprezo...” LARRAÑAGA, 2007, p.129.
“Uma
pessoa pode não ter beleza, dinheiro ou bondade, mas pode ter fama. Nesse caso,
o pólo de atração será a fama, que a fará rodeada e estimada. Outra pode não
ter fama, beleza, simpatia ou bondade, mas pode ter dinheiro. Nesse caso, o dinheiro vai ser o pólo de
atração. Outras vezes vai ser a beleza e a simpatia. Pode faltar tudo, mas a bondade
pode ficar como pólo de atração. [...] As pessoas nunca amam o homem puro. Amam
as qualificações sobreposta às pessoas. LARRAÑAGA, 2007, p. 131”
“Esta
noite eu vi em sonhos... [...] Estas poderosas torres de São João de Latrão
começaram a curvar-se. O edifício inteiro começou a ranger e, quando parecia
que as paredes da igreja iam ao chão, um homenzinho esfarrapado arrimou-a com
os ombros, sustentou-a e impediu que a igreja viesse abaixo. E ainda estou
vendo aquele mesmo esfarrapado. Eras tu, Francisco, filho de Assis.” LARRAÑAGA,
2007, p. 239.
Ninguém quer passar por
ridículo. Receber zombarias, desprezos e humilhações. Quem seria capaz de
renunciar suas riquezas e desejos de fama e glória? De tomar Deus como guia
para o resto da vida?
Tinha
chegado à conclusão de que na base de toda rebeldia há um problema afetivo. Os
difíceis são difíceis porque se sentem rejeitados. Mas também sabia que é
difícil amar os não amáveis, e que as
pessoas não os amam justamente porque não são amáveis, e que ficam menos
amáveis ainda quanto menos são amados, e que a única coisa no mundo que pode
curar o que se comporta mal é o amor. LARRAÑAGA, 2007, p. 261
Houve
um problema profundo:
Onde
está a vontade de Deus?
Houve
um problema mais profundo:
Onde
está Deus?
Houve
um problema final:
Deus
é ou não é?
LARRAÑAGA, 2007, p. 310
A
noite escura do espírito é um turbilhão que agarra e arrasta tudo para o abismo
final. Parece que Deus nos abandonou e não atende os nossos chamados. Parece
que a Palavra não tem sentido algum. Ficamos irreconhecíveis. Tudo nos deixa
desanimados.
Só
que é esse momento que Deus nos mostra que é Tudo. É o momento de purificação.
Como
explicar? É como se alguém descobrisse,
de repente, que ele mesmo não passa de uma mentira que pregou a si mesmo, como
uma brincadeira de criança em que cada um quer ver quem engana o outro, sabendo
que todos estão enganando todo mundo.
Como
explicar? É como um desdobramento da personalidade, como se, de repente, alguém
descobrisse que estava enganado a si mesmo e que as duas partes de si mesmo
sabiam que estavam enganando e sendo enganadas.
LARRAÑAGA,
2007, p. 314.
“Por
que a ti? De acordo com as regras do mundo, tu, Francisco de Assis, não tens
nenhum motivo para cativar a atenção popular. Não és bonito, por que todos
querem ver-te? Não és eloqüente, por que todos querem ouvir-te? Não és sábio,
por que todos querem consultar-te? Por que todo mundo corre a ti quando não
tens nada para atrair? Qual é o segredo do teu fascínio?”
LARRAÑAGA,
2007, p. 276.
A
coisa que amamos nos prende. Às vezes, fico em dúvida se é a coisa que nos
prende ou nós que nos prendemos a coisa. Possivelmente, não há diferença entre
um e outro. Quando aparece alguma ameaça para a coisa que amamos, isto é,
quando surge algum perigo de que ela nos escape, nós a agarramos com mais
força. Se o perigo aumentar, aumentará o nosso agarramento. Quanto mais crescer
nosso agarramento maior será a coisa.
LARRAÑAGA,
2007, p. 363.
O
ser humano utiliza sua superioridade intelectual para torturar os animais
indefesos. Quer domesticar a todos, isto é, quer dominá-los e submetê-los a seu
serviço, e muitas vezes a seu capricho. Os que se dedicam a caçar não são os
pobres que têm fome, mas os ricos a quem não falta nada. Matam para se
divertir. O ser humano não respeita nada, porque se sente superior a tudo.
LARRAÑAGA,
2007, p. 462.
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