quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O IRMÃO DE ASSIS



Se viver consiste em acreditar em algo, é preciso conhecer pessoas mostrando que acreditar é preciso. Que é possível viver acreditando e será possível dar a vida acreditando. Essas pessoas guardam um mistério onde se torna fascinante e estimulante querer saber a vida delas. Como elas viveram? Como conseguiram? Como suportaram? Seus atos inspiram e seus nomes e obras atravessam o tempo. Apresento aqui um pouco da vida de Giovanni di Pietro di Bernardone.

           
            Deus? Quem é Deus? Uma invenção? Uma história?


O que dizer? Às vezes muito é se dito quando é pouco falado. As palavras têm o poder de “balançar as estruturas”. Tem se a história, os ensinamentos, os dramas, as vitórias, as experiências...


“Tudo começa com o despertar. Você acorda diante do fracasso. Ver que tudo pelo qual se lutou foi em vão. Não deu certo. Sozinho, preso, sem tantas coisas pra fazer. Apenas quieto. É  nessa hora que Ele aparece...”  LARRAÑAGA, 2007, p.12.


“Em toda adesão a Deus, quando é plena, esconde-se uma busca inconsciente de transcendência e de eternidade. Em toda saída decisiva para o Infinito, palpita um desejo de libertar-se da opressão de toda limitação e, assim, a conversão transforma-se na suprema libertação da angústia.”. LARRAÑAGA, 2007, p.12.


“Onde está o dinheiro não há lugar para outro Deus. Onde há dinheiro não há amor. O dinheiro corrompe os sentimentos, divide coração, dissocia famílias: inimigo de Deus e inimigo do ser humano.” LARRAÑAGA, 2007, p.72.


“A família e sociedade firmam os pés sobre o senso comum, sobre a plataforma do convencionalismo e necessidade às vezes naturais, às vezes artificiais: é preciso casar-se, ter filhos, ganhar dinheiro, construir um prestígio social... É difícil, quase impossível, ser livre nesse ambiente, e a pessoa que quer seguir Jesus até as últimas conseqüências precisa antes de tudo liberdade, e não há liberdade sem saída. LARRAÑAGA, 2007, p 73.”


“Deus está sempre no centro. Quando todos os revestimentos caem, aparece Deus. Quando os amigos desaparecem, os confidentes atraiçoam, o prestígio social é ferido a machadadas, a saúde vai embora, então aparece Deus. Quando todas as esperanças sucumbem, Deus levanta o braço da esperança. Quando os andaimes arriam, Deus transforma-se em apoio e segurança. Só os pobres possuirão a Deus.” LARRAÑAGA, 2007, p. 94


“Não sabia que rumo sua vida haveria de tomar. Esforçava-se apenas para ser fiel cada dia e vivia à espera da manifestação da vontade divina.” LARRAÑAGA, 2007, p. 119.


“O dinheiro classifica. Levanta muralhas de aço entre irmãos. A fama classifica e a beleza também. Que sobrará para todos os filhos de Deus que não têm dinheiro, beleza, títulos, saúde ou fama? Só o esquecimento e o desprezo...”  LARRAÑAGA, 2007, p.129.


“Uma pessoa pode não ter beleza, dinheiro ou bondade, mas pode ter fama. Nesse caso, o pólo de atração será a fama, que a fará rodeada e estimada. Outra pode não ter fama, beleza, simpatia ou bondade, mas pode ter dinheiro.  Nesse caso, o dinheiro vai ser o pólo de atração. Outras vezes vai ser a beleza e a simpatia. Pode faltar tudo, mas a bondade pode ficar como pólo de atração. [...] As pessoas nunca amam o homem puro. Amam as qualificações sobreposta às pessoas. LARRAÑAGA, 2007, p. 131”


“Esta noite eu vi em sonhos... [...] Estas poderosas torres de São João de Latrão começaram a curvar-se. O edifício inteiro começou a ranger e, quando parecia que as paredes da igreja iam ao chão, um homenzinho esfarrapado arrimou-a com os ombros, sustentou-a e impediu que a igreja viesse abaixo. E ainda estou vendo aquele mesmo esfarrapado. Eras tu, Francisco, filho de Assis.” LARRAÑAGA, 2007, p. 239.

                                                                                                              
Ninguém quer passar por ridículo. Receber zombarias, desprezos e humilhações. Quem seria capaz de renunciar suas riquezas e desejos de fama e glória? De tomar Deus como guia para o resto da vida?


Tinha chegado à conclusão de que na base de toda rebeldia há um problema afetivo. Os difíceis são difíceis porque se sentem rejeitados. Mas também sabia que é difícil  amar os não amáveis, e que as pessoas não os amam justamente porque não são amáveis, e que ficam menos amáveis ainda quanto menos são amados, e que a única coisa no mundo que pode curar o que se comporta mal é o amor. LARRAÑAGA, 2007, p. 261


Houve um problema profundo:

Onde está a vontade de Deus?

Houve um problema mais profundo:

Onde está Deus?

Houve um problema final:

Deus é ou não é?
                                                                               LARRAÑAGA, 2007, p. 310


A noite escura do espírito é um turbilhão que agarra e arrasta tudo para o abismo final. Parece que Deus nos abandonou e não atende os nossos chamados. Parece que a Palavra não tem sentido algum. Ficamos irreconhecíveis. Tudo nos deixa desanimados.


Só que é esse momento que Deus nos mostra que é Tudo. É o momento de purificação.


Como explicar?  É como se alguém descobrisse, de repente, que ele mesmo não passa de uma mentira que pregou a si mesmo, como uma brincadeira de criança em que cada um quer ver quem engana o outro, sabendo que todos estão enganando todo mundo.

Como explicar? É como um desdobramento da personalidade, como se, de repente, alguém descobrisse que estava enganado a si mesmo e que as duas partes de si mesmo sabiam que estavam enganando e sendo enganadas.
LARRAÑAGA, 2007, p. 314.


“Por que a ti? De acordo com as regras do mundo, tu, Francisco de Assis, não tens nenhum motivo para cativar a atenção popular. Não és bonito, por que todos querem ver-te? Não és eloqüente, por que todos querem ouvir-te? Não és sábio, por que todos querem consultar-te? Por que todo mundo corre a ti quando não tens nada para atrair? Qual é o segredo do teu fascínio?”
LARRAÑAGA, 2007, p. 276.


A coisa que amamos nos prende. Às vezes, fico em dúvida se é a coisa que nos prende ou nós que nos prendemos a coisa. Possivelmente, não há diferença entre um e outro. Quando aparece alguma ameaça para a coisa que amamos, isto é, quando surge algum perigo de que ela nos escape, nós a agarramos com mais força. Se o perigo aumentar, aumentará o nosso agarramento. Quanto mais crescer nosso agarramento maior será a coisa.
LARRAÑAGA, 2007, p. 363.


O ser humano utiliza sua superioridade intelectual para torturar os animais indefesos. Quer domesticar a todos, isto é, quer dominá-los e submetê-los a seu serviço, e muitas vezes a seu capricho. Os que se dedicam a caçar não são os pobres que têm fome, mas os ricos a quem não falta nada. Matam para se divertir. O ser humano não respeita nada, porque se sente superior a tudo.

LARRAÑAGA, 2007, p. 462.

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